quarta-feira, 16 de maio de 2018

Por que a personalidade das pessoas muda (muitas vezes para pior) nas redes sociais?

Em uma tarde de fevereiro deste ano, a professora Mary Beard postou uma foto no Twitter chorando. A célebre historiadora da Universidade de Cambridge, que tem quase 200 mil seguidores na rede social, estava desolada: após fazer um comentário sobre o Haiti, ela foi vítima de uma avalanche de insultos. 

"Eu falo com o coração (e, é claro, posso estar errada). Mas o lixo que eu recebo como resposta, não é justo, realmente não é", tuitou. 

Nos dias que se seguiram, Beard recebeu o apoio de diversas personalidades - independentemente de concordarem ou não com sua postagem inicial. E várias dessas pessoas também viraram alvo de agressões. Quando uma das críticas de Beard, a acadêmica Priyamvada Gopal, de ascendência asiática, publicou um artigo online em resposta ao tuíte original da historiadora, também recebeu uma enxurrada de ataques. 

Mulheres e representantes de minorias étnicas são desproporcionalmente as maiores vítimas de abusos no Twitter, incluindo ameaças de morte e de violência sexual. No caso em que há o cruzamento de ambos os indicadores de identidade, o assédio moral pode se tornar ainda mais acentuado - como mostrou a parlamentar britânica negra Diane Abbott, que recebeu quase metade de todos os tuítes hostis enviados a deputadas mulheres durante a campanha para as eleições gerais de 2017 no Reino Unido. Em média, as parlamentares negras e asiáticas receberam 35% mais mensagens impróprias do que suas colegas brancas, mesmo excluindo Abbott do total.

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Smartphone engorda

Pesquisa da Universidade Federal de Lavras (Ufla) mostrou que usar o celular ou ler durante as refeições pode aumentar o consumo de calorias em até 20%. O estudo associa o uso de um smartphone ou a leitura à uma distração que pode levar a pessoa a comer mais.

A conclusão veio do Departamento de Ciências da Saúde da universidade, que avaliou 64 pessoas, de 18 a 40 anos. Foram avaliados aspectos como a mastigação, Índice de Massa Corporal e preferência de alimentação. Os participantes se alimentaram sem nenhuma distração e depois ao lado de smartphones e textos de uma revista.

O resultado foi de 15% mais calorias com o uso de celulares ou tablets e até 20% mais no caso da leitura de um texto, o que representa 101 calorias.

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Início do fim do Brasil

Por Eleonora Lucena e Rodolfo Lucena, no Tutaméia (veja a íntegra)

O golpe iniciado em 2016 é "uma tsunami política que tem um objetivo muito claro: remover qualquer traço de potencial soberania do Brasil, eliminar o Brasil do cenário geopolítico mundial como uma voz dissidente nas Américas e sabotar os Brics". A avaliação é do neurocientista Miguel Nicolelis em entrevista ao Tutaméia.

Para ele, a situação atual é muito pior do que a vivida nos idos de 1964: agora o golpe "carrega dentro dele a semente da destruição, a obliteração total de qualquer vestígio de soberania brasileira".

"É trágico. Se estivéssemos no século 5 a.C aqui, um dos grandes poetas gregos iria escrever uma tragédia grega sobre a história brasileira. Nós somos a manifestação, no século 21, de uma tragédia grega do século 5 a.C. Temos provavelmente um dos comportamentos mais peculiares do mundo, que é essa contínua tentativa de autossabotagem ao próprio país, essa autofagia brasileira, esse tiro no pé crônico é único", afirma.

Nicolelis é um dos mais importantes cientistas do mundo. Membro das Academias de Ciência brasileira, francesa e do Vaticano, doutor em medicina pela USP, ele recebeu mais de 30 prêmios internacionais. Desde 1994, é professor da Duke University, nos Estados Unidos. Ficou mais conhecido do grande público quando, na abertura da Copa de 2014, Juliano Pinto, paraplégico havia dez anos, deu o chute de abertura dos jogos. Três metros atrás de Juliano estava Nicolelis, idealizador (com John Chapin) do paradigma cérebro-máquina que proporcionou a realização do inédito e revolucionário movimento.

Entusiasta da ciência e do Brasil, Nicolelis idealizou o projeto do Instituto Internacional de Neurociências de Natal. Relatou a saga de criação do Campus do Cérebro no Rio Grande do Norte em Made in Macaíba (Planeta, 2016). Seu primeiro livro, Muito Além do Nosso Eu (Companhia das Letras, 2011), foi traduzido em dez línguas.

Início do fim do Brasil
Com toda essa trajetória, Nicolelis fala de um turbilhão de temas nessa entrevista de duas horas ao Tutaméia. Trata de política, de ciência, do futuro do mundo e da humanidade, de redes sociais, fake news. Dá sua opinião sobre a série "Perdidos no Espaço" e conta sobre o livro que acabou de finalizar.

Dois anos depois do impeachment de Dilma Rousseff, o neurocientista ainda lembra da dor aguda que sentiu enquanto acompanhava, desde o seu escritório nos Estados Unidos, a vergonhosa sessão da Câmara dos Deputados, em 17 de abril de 2016. Uma votação como aquela, diz, jamais aconteceria no congresso norte-americano ou em outro país.

"Nunca haveria uma votação cujo motivo subliminar é a entrega do país. Não era o jogo de tirar a presidente, que era jogo de cartas marcadas. Em jogo ali era o primeiro capítulo dessa tragédia que um dia pode ser escrita com o seguinte título: 'O Começo do Fim do Estado Brasileiro'. É isso que eu temo deixar para os meus netos", declara. E emenda: "Pode parecer exagero, eu estou muito tranquilo nessa análise. Acho que não demos a devida dimensão do que está havendo aqui".

https://www.revistaforum.com.br/miguel-nicolelis-esse-golpe-e-muito-pior-que-o-de-1964-pois-carrega-a-semente-da-destruicao/

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Lixo móvel

Adam Alter poderia passar por telepastor. É jovem, fica à vontade na frente das câmeras, fala com desenvoltura e tem um discurso bem estruturado e simples, que alcança o público com facilidade. E apesar de não se considerar religioso, ele admite que deve agir para chamar a atenção para uma crise social e moral que está se formando à sombra da revolução tecnológica: o vício nas telas.




A tecnologia digital é uma necessidade moderna. Os videogames, a televisão, o rádio e o telégrafo, e até a letra impressa revolucionaram a sociedade por causa de seus efeitos sobre a cultura, o conhecimento, a criatividade e as emoções. Mas com os aplicativos é diferente, porque se apoiam em algoritmos sedutores. O problema com esse vício, além do mais, é que não se pode remover a substância que vicia porque todo mundo está usando essa tecnologia.

Professor de marketing na faculdade de Administração da Universidade de Nova York, ele explora no livro Irresistible como a tecnologia consegue roubar o tempo e a atenção dos usuários para que eles não se afastem da tela. Defende que sejam estabelecidos padrões para o design de aplicativos. Mas adverte que o consumidor é que deve avaliar seriamente como gerencia seu tempo.

Pergunta. Psicólogos e sociólogos vêm debatendo os efeitos das telas há anos. Agora o problema domina as manchetes.

"Os executivos do Vale do Silício mandam seus filhos para escolas sem tecnologia. Eles sabem de tudo isso e são os mais cautelosos"

Resposta. O movimento tomou forma em novembro, quando Sean Parker [um dos primeiros investidores no Facebook] disse que a rede social não se preocupa com o bem-estar dos seus usuários e que tudo o que importa é que as pessoas mantenham os olhos colados na tela e passem o máximo de tempo possível usando o dispositivo. Foi um grande momento, levou outras figuras do mundo tecnológico a revelar que algo semelhante acontecia em suas empresas.

P. Mas essas empresas são indiferentes ou simplesmente querem ter o melhor produto?

R. Pode-se dizer que o melhor produto é aquele que você não consegue parar de usar. Se você usa o iPhone quatro horas por dia, é porque ele é bem projetado. Mas é muito difícil saber quais motivações estão por trás. Por isso é tão importante que quem conhece o processo o revele, para que essas empresas levem em consideração o consumidor.

P. A culpa é do fabricante ou do desenvolvedor do aplicativo?

R. A Apple não me parece ser o problema. É verdade que permite criar aplicativos que não conseguimos parar de usar. Mas depois que te vende o telefone, a Apple não se importa tanto com o tempo que você passa na tela. Já Facebook, SnapChat e Twitter se preocupam com isso a cada minuto porque é uma métrica fundamental para seus negócios. Poderíamos pedir à Apple para regular a forma como apresenta as informações, o que também é importante, mas os ganchos estão no conteúdo.

P. A pessoa é a última responsável pelo uso.

R. Existem pessoas capazes de ver que 20 minutos já bastam e então passam para outra coisa. Mas se em 2015 se ficava uma média de três horas na frente das telas, no ano passado já eram quatro. Portanto, houve uma mudança no conteúdo que escapa do controle do usuário. Nem todo mundo é capaz de fazer uma análise do que é bom ou ruim para sua vida. É nisso que as empresas focam, nos milhões de olhos que não se importam com o uso da tecnologia.

P. Como se detecta esse tipo de dependência?

R. O primeiro sinal é social, quando compromete os relacionamentos. O segundo é financeiro, se essa interação acaba custando mais dinheiro do que se pensava. A terceira é física, porque a perda de atenção pode causar um acidente ou porque o usuário não se exercita. E o quarto é psicológico, porque muda a maneira como você lida com o tédio. O último parece uma bobagem, mas o telefone está ocupando cada segundo que se tem livre. Não há problema em não se entediar, mas do tédio surgem ideias.

"Essas empresas não estão muito preocupadas com a inovação, exceto a própria, seu foco é tentar impedir que o usuário saia"

P. As telas são uma ameaça para uma sociedade aberta?

R. Sim, porque reforçam o efeito de caixa de ressonância. As pessoas ficam em plataformas onde veem suas próprias ideias e pontos de vista refletidos. Isso te torna mais intransigente, dogmático e teimoso. O Facebook sabe que as pessoas gostam de ver os outros compartilhando suas mesmas ideias. As plataformas são projetadas para tentar mantê-lo conectado ao dispositivo, para reforçar essa ressonância; não querem alterar a mensagem apresentando opiniões diferentes.

P. Supõe-se que, quanto mais aberta, mais inovadora é uma sociedade.

R. Não dá para ser criativo sem ter um espaço aberto para pensar e debater. Mas acho que essas empresas não se importam muito com inovação, exceto a sua própria, que é focada em tentar evitar a saída do usuário e a perda de receita com publicidade. É uma nova forma de monopólio.

P. Estamos infelizes com tanta tecnologia?

R. Acho que estamos menos felizes como comunidade, como sociedade. Se dedicamos menos tempo a tudo aquilo que nos torna humanos, e passamos as quatro horas que temos livres no telefone fazendo a mesma coisa, nos tornamos homogêneos. Precisamos dedicar esse tempo livre aos nossos hobbies, praticar esportes, fazer caminhadas na natureza, conversar frente a frente. É vital para o desenvolvimento das pessoas.

P. Marc Benioff, CEO da Salesforce, compara o uso de redes sociais com o uso do tabaco. Deveria ser regulado em vista da maneira como vicia?

R. Poderiam ser criadas normas, por exemplo, para proteger os funcionários com políticas que limitem o envio de mensagens fora do horário de trabalho. Mas é algo que os consumidores precisam exigir, como aconteceu com a política ambiental. Ninguém dava atenção ao descarte de lixo até que se tornou um grande problema e os consumidores forçaram a mudança.

P. Como se interrompe o fluxo de informações que as pessoas usam para trabalhar ou interagir?

"Não é uma batalha equilibrada. Há centenas de pessoas dedicadas ao design de cada detalhe, de cada truque, como o botão 'curtir'"

R. Não é uma batalha equilibrada. Há centenas de pessoas dedicadas ao design de cada detalhe, de cada truque, como o botão "curtir", que faz você se viciar nas plataformas. Eles têm bilhões de dados que lhes permitem saber o que funciona. É por isso que, como consumidores, devemos ser mais inteligentes e tentar mudar nossos hábitos de uso. É difícil.

P. Esse vício, no entanto, não mata como as drogas.

R. Sim, mas a dependência química afeta uma parte muito pequena da população, enquanto o vício nas telas é muito mais difundido e avança de maneira silenciosa. Ser viciado em heroína não é socialmente aceito, mas em tecnologia, sim. As pessoas esperam que você responda às mensagens imediatamente, do elevador ou durante o jantar. As consequências disso terão maior alcance.

P. Então é mais difícil de combater?

R. A dependência de álcool ou drogas pode ser reduzida mudando-se de ambiente. Não é fácil, mas é uma opção. Mas se você depende da tecnologia em sua rotina diária, não há alternativa porque nossas vidas estão cheias de telas e é muito difícil se comunicar sem elas. Para a maioria dos adultos, as telas se tornaram um elemento de definição da própria identidade.

P. Parece mais com a crise da obesidade do que com a do tabaco. Não seria mais prático ensinar como usar a tecnologia?

R. A abstinência não é realista, mas deveriam existir cursos sobre como interagir com a tecnologia. E não só para mostrar seus riscos, mas também seus benefícios. Há escolas sem tecnologia no Vale do Silício, onde estudam precisamente os filhos de executivos de tecnologia. Eles sabem muito bem de tudo isso e são os mais cautelosos.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Geração Z

Se você tem 30 anos ou mais provavelmente já sentiu uma certa inveja da rapidez com que adolescentes e crianças teclam em seus smartphones ou da facilidade com que fazem várias coisas ao mesmo tempo - ouvir música no Spotify, "curtir" postagens no Facebook, conversar pelo WhatsApp, ver vídeos no YouTube - tudo pelo celular. Mas essa intimidade com a tecnologia não garante só vantagens aos "centennials", como são chamados os nascidos entre 1996 e 2010. Também conhecida como geração Z, essas pessoas, hoje com 22 anos no máximo, também sofrem os efeitos da digitalização crescente do dia a dia.

Com mais adolescentes interagindo por mais tempo pelo celular, em vez de encontrar-se pessoalmente, os "centennials" estão menos sujeitos a acidentes de carro e outros incidentes típicos da idade, observa a psicóloga americana Jean M. Twenge, professora da Universidade Estadual de San Diego, em artigo publicado recentemente pela revista "The Atlantic". Do ponto de vista físico, eles são a geração mais segura que já existiu. Mas a dependência do smartphone e das redes sociais também os tornaram os mais vulneráveis da perspectiva psicológica.

A conclusão é contundente: aparelhos como smartphones e tablets estão tornando os iGen, como a especialista os chama, "seriamente infelizes". A geração está à beira da pior crise mental em décadas nos Estados Unidos, diz ela, e grande parte dessa deterioração pode ser atribuída aos telefones e à mídia social.

No Brasil, 35% da geração Z alega já ter sofrido depressão em alguma fase da vida - um número alarmante para crianças, adolescentes e jovens de vinte e poucos anos - e 57% diz conhecer alguém da sua idade que sofre da doença, segundo uma pesquisa inédita da consultoria Consumoteca. Ao todo, 55% dos entrevistados se definem como "ansiosos" ou "muito ansiosos".

O motivo dessa ansiedade se deve, em parte, às postagens que se multiplicam em redes como Instagram e Facebook, nas quais as pessoas sempre se mostram em situações felizes, como viagens, festas e compras. "Eles são bombarbeados por vidas esplendorosas. É a pressão da vida perfeita", diz o antropólogo Michel Alcoforado, sócio da Consumoteca. Da mesma forma que as mulheres das gerações anteriores se sentiram pressionadas a ter corpos perfeitos, como as supermodelos, os "centennials" se sentem obrigados a ser felizes o tempo todo, mesmo sabendo que a web não reflete a vida real.

Há outra fonte de ansiedade, afirma Alcoforado. É a necessidade de opinar sobre qualquer assunto que a rede de amigos considere importante, mesmo que o indivíduo não conheça muito do tema ou se importe com ele. Para 52% dos entrevistados, o Facebook é, hoje, a principal fonte de notícias diárias, revela a pesquisa. Não importa muito qual a fonte da informação consultada, mas a quantidade delas, porque é essa miscelânea que vai permitir esboçar uma opinião na internet. "É a geração do 'textão'", diz o antropólogo, sobre os comentários enormes que acompanham postagens mais polêmicas. E como o que entra na web dificilmente desaparece, há um receio generalizado de se arrepender mais tarde do que foi dito ou mostrado. Novamente, a pressão é para ser perfeito.

O problema ganha relevância diante de uma combinação de fatores - além de passar mais tempo na internet, a geração Z inicia a vida digital mais cedo. Um estudo divulgado em novembro do ano passado, pela empresa de pesquisa Kantar, mostra que os "centennials" passam 4 horas e 17 minutos por dia na web via celular. Para comparar, a geração Y, que a antecedeu (nascidos até 1995), navega cerca de 40 minutos a menos - 3 horas e 37 minutos. Os brasileiros também são precoces. Outro levantamento, do instituto iStart, mostra que enquanto na América Latina 60% das crianças ganham o primeiro celular aos 12 anos, no Brasil a idade média é de 8 anos.

A conexão constante com a internet transfere para a web experiências que, antes, eram vividas de maneiras bem diferentes. Na pesquisa da Consumoteca, 58% dos participantes disseram se considerar militantes, ativistas ou simpatizantes de alguma causa. Mas há uma enorme diferença entre simpatizar e militar. Para citar dois casos, na política 91% se disse simpatizante e apenas 9%, militante. No feminismo, a diferença é de 86% para 14%.

Mesmo quem milita faz isso principalmente on-line: 68% participa de debates nas redes sociais, 45% cria ou compartilha conteúdo na mídia social e 42% integra grupos de WhatsApp. Participar de manifestações, protestos ou ocupações - o modo tradicional, digamos - só aparece em 5º lugar (40%). "É a primeira geração que faz diferença entre simpatia e engajamento. Eles são simpáticos a muitas causas, mas o engajamento é baixíssimo", diz Alcoforado.

É preciso cuidado, claro, para não demonizar o celular e as redes sociais, ou detratar os adolescentes. O fato de a geração Z ter nascido no mundo digital - em vez de se adaptar a ele, como as gerações anteriores - também tem características positivas, em particular no consumo. Questões de ética como trabalho infantil ou escravo, corrupção e respeito ao ambiente pesam para esse consumidor, diz Tracy Francis, sócia sênior da consultoria McKinsey. "É uma questão de coerência. As empresas não podem mais falar uma coisa e fazer outra", afirma.

A facilidade com que as informações se disseminam na web ajuda nessa vigilância, diz Paula Engert, presidente e sócia da empresa de pesquisas Box1824, que no ano passado traçou um perfil da geração Z com a McKinsey. Hoje, nada que ocorre dentro das empresas é mais privado, afirma a executiva. Uma companhia não pode defender publicamente a igualdade de gênero e ter um conselho de administração exclusivamente masculino, exemplifica. Bastaria a alguém publicar uma foto mostrando só homens na reunião para levantar suspeitas sobre o comprometimento real da companhia com o tema.

Em abril do ano passado, a United Airlines perdeu US$ 250 milhões em valor de mercado em um único dia depois de mandar arrastar um passageiro para fora de um avião para acomodar funcionários em um voo lotado nos EUA. O episódio, que chocou o público, provavelmente não teria maiores consequências sem a instantaneidade do smartphone e da mídia social. É o que Tracy, da McKinsey, chama de "consumo da verdade".

A expectativa é que com a geração Z as empresas não tenham só dificuldade para vender seus produtos diante de uma eventual inconsistência entre discurso e prática, mas também em contratar e reter pessoal. "O trabalho só pela remuneração não existe mais", diz Paula, da Box1824.

Na pesquisa da Consumoteca, 72% dos entrevistados disseram acreditar que fazer o que gosta é mais importante do que ganhar bem. O que não exclui uma certa contradição. Para a maioria (37%), ter o próprio negócio é a melhor maneira de atingir a vida profissional ideal, mas só 3% escolheram a opção de trabalhar em uma startup. A lição é que o empreendedorismo é bom desde que se seja o patrão. "A geração Z não procura uma vida idealizada como a dos 'millenials', mas querem sucesso rápido", afirma Alcoforado. "Se um 'millenial' queria virar diretor em quatro anos, na geração Z o estagiário quer virar presidente."

quinta-feira, 29 de março de 2018

Sobre os Fascistas

Fascistas são como lobos: predadores que só se sentem fortes em matilha. Sozinhos são covardes, pois se sabem presas fáceis.

O caso do medíocre, desqualificado e desconhecido jornalistazinho raivoso da revista IstoÉ que pregou a morte de Lula no sábado ilustra bem isso. Falou grosso pensando que a editora comprasse sua briga baixa e, quando se viu sozinho exposto às naturais intempéries de que quem provocou a ira coletiva, foi pedir colinho de mamãe. Registrou ocorrência policial por crime de ameaça. Coitadinho.

Patético. Quem se dispõe a brigar deve arcar com as consequências. Atirar e depois fugir não é meio de se ganhar guerra. Mas os fascistas são assim e com eles só vai quem quiser entrar para a história como covarde e monstro embrutecido a não merecer a qualificação de civilizado.

"Haters" são uma espécie de fascistinhas a reboque de lideranças inescrupulosas. Contaminados pela ira, são capazes de dizer e fazer barbaridades que, em sã consciência, jamais lhes passaria pela cabeça e, quiçá, delas se envergonhariam se apanhados de público metidos nelas.

Piores que os "haters" são os que lhes incutem e comandam o ódio e a ira. Esses são os manipuladores, os que lideram a matilha, como verdadeiros cães alfa. O jornalistazinho não é um cão alfa. É apenas empregado de um deles. Um mísero empregado que pode até ganhar suas trinta moedas de pratas, mas que não manda. É mandado. É contaminado e programado. E, na hora do pau, ninguém o acolhe. Esperam que se enforque que nem o Judas com suas trinta moedas.

Quem manda nesse circo de raiva e rancor de certo nem está possuído de raiva e rancor, apenas tem ambição e cobiça. A raiva e o rancor é apenas para os outros, uns bobões que lhe entregam o que é seu e impedem a resistência ao saque e ao domínio subalterno de toda a sociedade. É muitos aceitam entrar no jogo estimulados pelas trinta moedas de prata. Uma ninharia que lhes dão para fazer o papel de bobos e se comportarem feito lobos de matilha sob suas ordens.

A destruição que os cães alfa promoveram em nosso país é visível para todos. Contaminaram as instituições, amestraram juízes de todos os níveis e procuradorezinhos vaidosos e carreiristas. Promoveram e continuam a promover a caça implacável a quem não aceita ser programado e integrado na matilha, sejam eles artistas, advogados, professores, políticos ou operários. Destruíram, pelas mãos do judiciário subalterno, a construção civil, a indústria naval, a pesquisa nuclear, causaram desemprego em massa, destituíram uma presidenta eleita, empoderaram uma quadrilha para que lhes entregassem ativos estratégicos nacionais e anulassem direitos.

O fizeram sem grande esforço. Bastou inventarem um tal "combate à corrupção" que não enfrentou corrupção coisa nenhuma, pois colocou os mais corruptos no comando do executivo para lhes facilitar o serviço.

Mas os cães da matilha se festejam. Ao gritarem "morte a Lula" se sentem fortes, iludidos, sem ver que são fracos, meros joguetes nas patas de seus cães alfa, a quem servem, ora por pequenas cobiças também, mas sobretudo porque estão obnubilados em seu ódio, que cega e não lhes permite reconhecer que, coitados, não passam de uns manipulados contra seus próprios interesses.

Que saibam, porém: Lula não morre. E os que com ele resistem são a vida, a vida que anima nosso sentimento de nação, que nos faz protagonistas nessa selva globalizada, apesar de todo processo de cooptação dos bobos, dos fascistas pau-mandados, como o jornalistazinho "hater" que foi procurar proteção no colinho de mamãe.

Lula e quem com ele resiste sabe que a história é um processo que não pára, que se move nas contradições das lutas de classe. Sabe que toda vitória é provisória, assim como toda derrota e, por isso, não se deixa abater, não corre para o colinho de mamãe, mas insiste no enfrentamento daqueles que querem submeter o povo a seus mesquinhos interesses e tirar-lhe o orgulho, o amor pelo que construiu, a autoestima e a capacidade de conquistar sua felicidade. Por isso, os que resistem são superiores e destinados a vencer, enquanto a matilha fascista se humilha, serviçal de seus opressores.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

comportamento multitarefa

Pense em uma volta de carro em um dia qualquer. Você está ao volante, o rádio está ligado, o GPS está fixado ao painel, mas o caminho sugerido não parece fazer muito sentido e você tem vontade de mexer no aplicativo para fazer outra rota. Ao mesmo tempo, um amigo está no banco ao lado e vocês falam sobre assuntos banais. A cena é bem comum e a gente mal se dá conta de como aumenta os riscos de se envolver em um acidente ao lidar com tantos fatores para tirar a atenção da direção. Tendemos a crer que somos multitarefas, quando isso, na verdade, é uma falsa premissa. 

 

No âmbito profissional, isso é um fator de prejuízo para muitas carreiras e empresas. O gestor de fundos se divide em diversas funções ao mesmo tempo, assim como o operador na bolsa de valores acredita que o cérebro seja capaz de processar múltiplas informações simultaneamente, bem como em grandes empresas os funcionários costumam ser cobrados por uma infinidade de projetos que acontecem ao mesmo tempo. As mulheres, em especial, lidam com um viés ainda mais perverso disso, já que a sociedade ainda insiste em lhes cobrar responsabilidades com a carreira, com o cuidado com os filhos e com a casa. 

 

Refletir sobre isso não é algo somente restrito ao senso comum. A Força Aérea dos Estados Unidos elaborou um levantamento com acidentes em que os pilotos estavam com a atenção dividida entre tantas tarefas que não conseguiram evitar a queda da aeronave. De acordo com o estudo, entre 1987 e 1998, o que é chamado de "saturação de tarefas" resultou em 190 tragédias. 

 

A professora Gloria Mark, da Universidade da Califórnia, também fez um trabalho de campo interessante sobre o assunto. Ela e uma colega passaram determinado período avaliando o cotidiano de funcionários de uma empresa de gestão de investimentos. Toda vez que um funcionário trocava de tarefa, como interromper um relatório para atender a um telefonema ou responder a um email, elas anotavam. No final, elas perceberam que os funcionários eram interrompidos cerca de 20 vezes por hora. Ou seja, eles eram capazes de manter a concentração em uma só tarefa por apenas 3 minutos. 

 

Você pode se habituar a fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo sem ter prejuízos desde que seja algum processo excessivamente simples e que esteja automatizado, como andar de bicicleta e assobiar ao mesmo tempo. No entanto, cuidado pois questões simples do cotidiano podem deixa-lo bem cansado que o normal. Tente, por exemplo, cantar uma música que você gosta muito ao mesmo tempo que escuta outra música. Você vai perceber que essa tarefa simples demanda um bom esforço mental. 

 

Joseph Hallinan, autor do livro "Por que cometemos erros?", levanta um debate importante sobre as tendências da indústria automotiva. As marcas produzem veículos repletos de gadgets que acabam por oferecer diversos estímulos que tiram a atenção da direção. 

 

Nos Estados Unidos, por exemplo, os caminhões correspondem a quatro a cada dez veículos em circulação. E como essa é uma indústria expoente por lá, as cabines dos veículos estão cada vez mais equipadas. Os motoristas se dividem entre tantos processos que acabam batendo em veículos menores com frequência. O autor do livro cita, por exemplo, um acidente que levou à morte uma senhora de 51 anos. Seu carro foi atingido por uma carreta e explodiu na hora. A família da vítima optou por processar a empresa que detinha a carreta. O resultado das investigações apontou algo impressionante: no momento da colisão, o motorista da carreta estava tentando usar o email em um laptop. 

 

Se está comprovado que a divisão de nossa atenção em tarefas como dirigir coloca não só nossas vidas em risco, mas também a dos outros, por que insistir nessa premissa no ambiente profissional? As empresas que insistem nesse tipo de viés, buscando maior produtividade, na verdade, estão ficando mais expostas a erros graves que podem ocasionar sérios prejuízos: seja com um relatório com erros muito sérios ou mesmo um acidente de trabalho. Fazer uma coisa de cada vez não é sinônimo de lentidão, mas sim de eficiência e qualidade. 


fonte: http://g1.globo.com/economia/seu-dinheiro/blog/samy-dana/post/cuide-melhor-de-sua-atencao-fazer-varias-coisas-ao-mesmo-tempo-so-prejudica-o-resultado.html